Facebook

Clouds – Doliu

Clouds - Doliu

Introdução

Eis que a Cold Art Industries nos traz um relançamento de 2014 em meio ao inverno apocalíptico, onde os dias são quentes como o inferno e as noites gélidas como o coração de um amor não correspondido. Imagine-se envolto em uma atmosfera densa, onde cada nota musical carrega o peso da dor e do luto esmagando qualquer sombra de refúgio do expurgo da miséria absoluta do simples viver.

Esse é o cenário que o álbum “Doliu” da banda Clouds nos apresenta. Originalmente lançado em 2014, “Doliu” é uma jornada emocional que explora os profundos sentimentos de perda e tristeza. Esta reedição vem para reacender a chama da melancolia, trazendo de volta uma obra que se tornou um clássico do Doom Metal atmosférico.

 Sobre a Banda

Clouds é uma supergrupo de doom metal atmosférico, formado por membros de algumas das bandas mais respeitadas do gênero. Liderada por Daniel Neagoe (Eye of Solitude, Deos, Colosus), a formação inclui Jarno Salomaa (Shape of Despair), Déhà (Imber Luminis, Slow), Kostas Panagiotou (Pantheist, Wijlen Wij), Pim Blankenstein (Officium Triste, The 11th Hour) e Jón Aldará (Barren Earth, Hamferð). Cada membro traz consigo uma bagagem rica em experiências e influências que se mesclam perfeitamente em “Doliu”.

 Desenvolvimento

A Profundidade Emocional de “Doliu”

“Doliu” é um álbum que não se contenta em apenas tocar; ele penetra na alma, a dilacerando para depois você se reconstruir. As letras e composições refletem as cinco fases do luto – negação, raiva, barganha, depressão e aceitação – guiando o ouvinte através de uma experiência catártica e introspectiva. A produção do álbum é impecável, cada instrumento cuidadosamente colocado para criar uma parede sonora que consegue ser esmagadora e sublime.

Análise das Letras

As letras de “Doliu” são poéticas e profundamente introspectivas, refletindo as angústias e sofrimentos pessoais dos membros da banda. Um exemplo claro é a faixa “You Went So Silent”, onde a dor da perda é expressa de forma visceral:

 “você ficou tão silencioso / você ficou tão sozinho / você foi na escuridão / você levou toda essa vida”

Este trecho remete ao conceito de luto como explorado por Elisabeth Kübler-Ross em seu livro “Sobre a Morte e o Morrer”, onde ela descreve as cinco fases do luto. A sensação de isolamento e escuridão descrita na música é um reflexo da fase de depressão, onde a pessoa enlutada sente a profundidade da perda e a ausência do ente querido.

Outra faixa que se destaca é “If These Walls Could Speak”, que aborda a ideia de estagnação e o desejo de libertação da dor:

 “minha mente é uma tempestade / meu corpo é um vazio / e todos que entrarem agora / devem passar por este coração”

Aqui, a letra parece dialogar com a filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre, especialmente no que diz respeito à noção de vazio e absurdidade da existência. Sartre, em “O Ser e o Nada”, explora como a consciência do vazio e da falta de sentido pode levar a um estado de angústia profunda, semelhante ao que é descrito na música.

Em “Heaven Was Blind To My Grief”, o tema do luto é novamente central, desta vez questionando a justiça divina:

 “o céu estava cego para o meu luto / tão cego / e mesmo que eu pedisse / o céu estava cego”

Este questionamento lembra a obra de Viktor Frankl, “Em Busca de Sentido”, onde ele discute como encontrar propósito e significado em meio ao sofrimento. A sensação de abandono e a busca por respostas são sentimentos comuns explorados tanto na música quanto na filosofia de Frankl.

 Faixas em Destaque

1. You Went So Silent: A abertura com harmonias de piano minimalistas prepara o terreno para a entrada melancólica e esmagadora das guitarras e dos vocais profundos. É uma introdução perfeita para o que está por vir.

2. If These Walls Could Speak: Mantendo a atmosfera, esta faixa começa com piano e evolui para um hino Doom, com guitarras pesadas e um ritmo arrastado que ecoa a dor expressa nas letras.

3. Heaven Was Blind To My Grief: Uma composição que mistura melodia e peso de forma magistral, com vocalizações que transitam entre o desespero e a aceitação.

4. A Glimpse Of Sorrow: Destaca-se pelos interlúdios de piano e pelas letras que exploram a agonia dos pesadelos e da perda, com uma melodia que é ao mesmo tempo bela e perturbadora.

5. The Deep Vast Emptiness: Uma faixa que faz jus ao seu título, preenchendo o espaço sonoro com uma vastidão emocional que só o Doom Metal pode proporcionar.

6. Even If I Fall: Encerrando o álbum com uma nota de esperança melancólica, esta faixa reflete sobre a persistência e a inevitabilidade da dor.

 Conclusão

“Doliu” é um álbum que merece ser ouvido repetidas vezes, a cada audição revelando novas camadas de sua complexidade emocional. A reedição traz de volta uma obra-prima que continua a ressoar profundamente com os ouvintes, especialmente aqueles que passaram por perdas significativas. Clouds nos lembra que, mesmo na dor, há beleza e, na tristeza, há uma forma de redenção.

Filipe Souza

Filipe Souza

Editor / Jornalista Responsável

MTB32471/RJ

👽 Gateiro, thelemita, amo a cultura hindu;
👽Converso sobre aliens, esoterismo, Google Ads e receita de bolinho de chuva!
📀Colecionador de LPs, CDs, Livros e histórias;
🤘 Ah! E metaleiro;
🃏Jogo uns tarôs de Crowley;
– Jornalista, designer e Workaholic;
– Produtor de conteúdo e apresentador do canal Cinco Miligramas de Misantropia;
– Amo cozinhar e degustar cervejinha artesanal;

Curta e compartilhe essa misantropia