O MTV Unplugged do Nirvana é sem sombra de dúvidas um marco para a série de discos desplugados que a MTV lançou nos anos 90. Aqui no Brasil diversos artistas catapultaram as suas carreiras, saindo do ostracismo em que se encontravam após gravarem seu “acústico”, vide Capital Inicial e Titãs.
Desvendar o MTV Unplugged do Nirvana é uma jornada complexa, envolta na aura mítica que se formou em torno de Kurt Cobain, conduzindo o músico ao infame “Clube dos 27”.
É um desafio separar a interpretação de suas palavras sinceras, como quando disse: “Juro que não tenho uma arma” e “Não espere que eu morra”, do destino trágico que assombrou o músico apenas quatro meses depois dessa inesquecível performance.
Nomes consagrados como Bruce Springsteen e Eric Clapton aproveitaram essa oportunidade para se divertir, explorando novamente antigas canções e lucrando sem precisar compor novas músicas.
Embora a atmosfera íntima fosse parte intrínseca do conceito “Unglugged”, a doce e suave “Tears In Heaven” de Clapton ganhou uma nova vida em sua versão Unplugged.
No entanto, Cobain adotou uma abordagem totalmente distinta. Ele fez a escolha ousada de executar seis covers pouco conhecidos, três desses sons com a participação de uma banda relativamente desconhecida, o Meat Puppets, que se uniram ao Nirvana no palco, e tocaram : Plateau, Oh Me e Lake of Fire, que ficaram magistralmente bem encaixadas, tanto que “Lake of Fire” parece e muito uma música do Nirvana.
Kurt Cobain fez questão que o cenário fosse decorado como um funeral, com lírios do tipo Stargazer e velas, e de propósito ignorou os clamores frustrados da plateia por pedidos de músicas, dizendo: “Você quer que eu toque ‘In Bloom’ acusticamente?!”
Determinadas partes do set do Nirvana, realizado no estúdio Hells Kitchen da Sony, parecem tão pessoais que beiram o estranho.
Este não é um álbum que você escuta duas vezes em um único dia. E ouvi-lo por inteiro pode se tornar uma experiência emocionalmente desgastante.
De forma intrigante, essa apresentação foi menos sobre os hits famosos do Nirvana e mais sobre a expressão criativa e a exploração de faixas mais profundas, aquelas que permaneceriam desconhecidas para a maioria se não tivessem explorado os álbuns.
Além disso, a inclusão de covers adicionou um toque de magia a essa performance memorável. Das envolventes melodias de The Vaselines, passando pela genialidade de David Bowie e The Meat Puppets, até o impressionante cover de Lead Belly, o Nirvana reinventou essas músicas com tamanha maestria que se tornaram suas próprias criações.
As faixas do MTV Unplugged In New York são uma verdadeira montanha-russa emocional, capaz de despertar uma paixão avassaladora.
Quando Neil Young assistiu a essa apresentação pela primeira vez, ele descreveu a nota final de Cobain como algo “sobrenatural, como um lobisomem, inacreditável”.
Quatro meses depois, Cobain citaria Young em uma carta escrita apressadamente para “Boddah”, seu amigo imaginário de infância, antes de tristemente encerrar sua própria história com um tiro na cabeça em sua casa em Seattle.
“É melhor queimar do que desaparecer”, ele escreveu. Essa intensidade e fragilidade permeiam cada nota deste álbum inesquecível.
Sintonizar a música “About A Girl” é testemunhar uma criação arrebatadora, uma música que hipnotiza e fascina quando tocada acusticamente. Com uma delicada sensação de pop/rock alternativo, ela evoca lembranças dos Beatles, especialmente na sua abordagem instrumental e vocal.
A versão original, presente no lançamento de Bleach em 1989, já era apaixonante, mas esta versão ao vivo transcende todas as expectativas. A entrega vocal de Cobain deixa-me sem palavras, revelando um talento inigualável.
“Come As You Are”, de Nevermind, é um oásis de serenidade e encanto e leva a música para uma esfera celestial.
“Jesus Don’t Want Me For A Sunbeam” é um tesouro valioso acrescentado ao repertório do Nirvana, superando significativamente a versão da banda The Vaselines intitulada “Jesus Wants Me for a Sunbeam”. Embora talvez não seja a música mais explosiva da playlist, ela se encaixa perfeitamente na estrutura da apresentação, deixando sua marca de forma inesquecível.
“The Man Who Sold The World” é uma impressionante homenagem a David Bowie, e embora a versão original de Bowie seja magnífica por si só, o Nirvana refinou-a ainda mais, tornando-a sua própria, uma reverência ao criador. Devido ao estilo de guitarra característico da música original, fica evidente porque Cobain sentiu a necessidade de usar um pedal de efeito durante a gravação.
“Pennyroyal Tea”, de In Utero, é uma obra-prima vocal de Cobain. Mais uma vez, essa é outra situação em que a performance do MTV Unplugged supera a brilhante gravação em estúdio.
“Dumb” mantém todo o groove e ritmo da versão original presente em In Utero, mas essa performance eleva a música a alturas celestiais que nunca foram alcançadas na gravação de estúdio.
“Polly”, de Nevermind, é uma composição incrível que se encaixa perfeitamente na essência desplugada desta apresentação.
“On A Plain”, de Nevermind, é executada com maestria nesta versão desconectada, superando a aclamada versão de estúdio lançada em 1991. Embora o estilo e a intenção sejam ligeiramente diferentes, “On A Plain” valida ainda mais o quão perfeitamente as músicas do Nirvana se adaptam à sonoridade acústica.
“Something In The Way”, de Nevermind, é uma das canções mais belas já gravadas pelo Nirvana. Embora nada possa superar a gravação original em estúdio, essa performance é absolutamente excepcional.
“Plateau”, a primeira das três covers do Meat Puppets, é uma perfeição musical! A fusão dos instrumentos de apoio e os vocais de Cobain me trazem carinhosas lembranças do estilo de Neil Young nos anos 70, enquanto a gravação original dos Meat Puppets possui um toque único, quase mágico. De qualquer forma, é uma música maravilhosa, e fico imensamente grato por o Nirvana ter escolhido fazer um cover dela.
“Oh Me” é uma daquelas músicas bem interessantes e fiquei com ela dias na cabeça.
“Lake Of Fire” é uma das melhores canções já gravadas pelo Nirvana. Sim, é um cover, mas a música se encaixa tão perfeitamente nos vocais de Cobain que ousaria dizer que esta é a única versão que você precisa ouvir.
“All Apologies” possui um groove irresistível, mas gosto mais da ver~sao em estúdio, pois ela é o encerramento perfeito para o último álbum do Nirvana.
Em In Utero, a mixagem e o peso sonoro melhoram ainda mais essa performance ao vivo, transmitindo uma sensação peso, que sinto falta na edição do MTV Unplugged.
E, por fim, “Where Did You Sleep Last Night” é a tocante interpretação de Leadbelly que mencionei anteriormente. Que maneira extraordinária de encerrar essa performance inigualável.
Embora a gravação original seja icônica, para mim, esta é a música de Kurt, pois ninguém poderia fazê-la melhor, e duvido que alguém possa.
É impossível desfrutar esse Unplugged do Nirvana sem evocar a morte, pois a presença dela ressoa em cada melodia, no entanto, isso não diminui sua excelência artística.
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