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Cinco Miligramas de Misantropia

October Tide – Tunnel of no Light

October Tide - Tunnel of no Light

A gravadora nacional Cold Art Industry traz para os fãs e colecionadores de doom metal uma edição especial do álbum “Tunnel of No Light” da banda sueca October Tide. Este relançamento em digipack fosco com slipcase é limitado a apenas 50 unidades, fazendo dele um item imperdível para os admiradores do gênero.

Um Pouco Sobre October Tide

October Tide é uma banda sueca de death/doom metal formada por ex-membros de Katatonia, Gorement e Trees of Eternity. Seu quarto álbum, “Tunnel of No Light”, foi originalmente lançado em 2013. A banda é conhecida por sua mistura de riffs pesados e interlúdios melódicos e sombrios, criando uma atmosfera de angústia e desolação que é marca registrada do doom metal.

Desenvolvimento do Álbum

“Tunnel of No Light” começa com “Of Wounds to Come”, uma faixa que mistura influências de Daylight Dies e Saturnus com um toque de Death Metal. A atmosfera sombria e as nuances emocionais fazem desta uma abertura potente para o álbum. “Our Constellation” segue, com um mix intrigante de Ghost Brigade e Paradise Lost, enriquecido com elementos de Saturnus. Esta faixa, apesar de arrastar-se um pouco,  através dos seus mais de oito minutos, mantém a essência melancólica que caracteriza o álbum.

No meio do álbum, temos “Emptiness Fulfilled” e “The Day I Dissolved”, ambas com forte influência de Katatonia, e que mantêm o nível do disco bem acima da média.  Com guitarras lamuriosas, e peso descomunal, o October Tibe desfragmenta a realidade e soterra o ouvinte.

 “Caught in Silence” e “In Hopeless Pursuit” trazem de volta a dinâmica e a complexidade que fazem do October Tide uma banda notável no cenário doom metal. 

O encerramento com “Adoring Ashes” oferece uma melodia sombria e construída cuidadosamente, resumindo bem a jornada emocional que o álbum proporciona. Alexander Högbom, como novo vocalista, contribui significativamente para a atmosfera opressiva do álbum, com seus growls profundos que complementam perfeitamente os tons mais baixos e os riffs esmagadores.

Edição Especial para Colecionadores

Este relançamento pela Cold Art Industry é uma verdadeira celebração para os fãs de October Tide e do doom metal. A edição especial inclui:

– Digipack fosco com 3 painéis
– OBI
– Livreto de 12 páginas
– Slipcase
– Ímã de geladeira
– Contra Capa sobressalente

Essa edição não só celebra a música, mas também valoriza a experiência física do colecionador, tornando-se um item de destaque em qualquer coleção.

Análise das Letras

As letras do álbum “Tunnel of No Light” da October Tide são uma profunda exploração de temas de desespero, dor e a luta interna do indivíduo. Cada faixa traz uma perspectiva única sobre a fragilidade humana e os aspectos mais sombrios da existência. 

Of Wounds To Come (Das Feridas que Virão)

A faixa de abertura, “Of Wounds To Come”, estabelece o tom sombrio do álbum. A letra aborda a inevitabilidade da dor futura, encapsulada na frase “A linha do horizonte é um lembrete das feridas que virão”. O narrador reflete sobre o ciclo de sofrimento e a passagem do tempo, destacando as feridas emocionais.

Essa letra lembra “O Mito de Sísifo” de Albert Camus, onde a vida é vista como uma luta constante contra o absurdo. Camus sugere que a aceitação dessa luta, apesar da falta de sentido, é onde se encontra a essência da existência. A canção reflete essa filosofia, expressando resignação e aceitação do sofrimento inevitável, transformando-se em uma meditação sobre a condição humana.

O mito de Sísifo, retirado da mitologia grega, serve como uma metáfora central para o ensaio. Sísifo é condenado pelos deuses a rolar uma pedra até o topo de uma montanha, apenas para vê-la rolar de volta ao vale, repetindo esse ciclo por toda a eternidade.

Camus utiliza este mito para ilustrar a luta humana contra a absurda busca por significado em um universo indiferente. 

Our Constellation (Nossa Constelação)

“Our Constellation” fala sobre a conexão entre duas pessoas unidas pela miséria. A letra “Foi a miséria que alinhou nossas estrelas” sugere que a dor compartilhada é o que mantém o vínculo entre eles. A canção toca na desesperança e na inevitabilidade de seguir em frente, mesmo quando tudo parece perdido.

A análise desta letra pode ser enriquecida com a filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre, que explora a ideia de que os indivíduos criam significado através das experiências que compartilham, especialmente em contextos de sofrimento e adversidade. 

Nesta canção, a conexão entre os personagens é cimentada pelo sofrimento compartilhado, refletindo a ideia sartreana de que o significado é criado através das relações e experiências humanas, especialmente em tempos de adversidade. A linha “Foi a miséria que alinhou nossas estrelas” encapsula essa noção de que a dor compartilhada pode unir as pessoas de maneira profunda, proporcionando um senso de propósito mesmo em um mundo aparentemente desprovido de sentido. As metáforas presentes na letra destacam a beleza trágica da verdade e a luta contínua contra a desesperança, oferecendo uma meditação poética sobre a condição humana e as relações interpessoais.

Emptiness Fulfilled (Vazio Preenchido)

Em “Emptiness Fulfilled”, a sensação de vazio é palpável. O narrador fala sobre ser um estranho à plenitude e à felicidade, refletindo sobre a apatia e a falta de propósito. A linha “Não sou um estranho para o vazio” resume o tema central da faixa, destacando a luta interna contra a desesperança.

Essa letra pode ser enriquecida ao relacioná-la com a obra “O Estrangeiro” de Albert Camus. No romance, o protagonista, Meursault, enfrenta uma existência marcada pela indiferença e falta de propósito, ecoando a apatia presente em “Emptiness Fulfilled”. Camus explora o conceito do absurdo e a busca por significado em um mundo indiferente, o que se alinha com a mensagem da canção. A sensação de vazio e a luta contra a desesperança são temas centrais tanto na letra quanto na filosofia de Camus, oferecendo ao público uma oportunidade de aprofundar-se na literatura existencialista.

Caught In Silence (“Capturado em Silêncio”)

“Caught In Silence” aborda a luta contra demônios internos e a busca por alívio. A letra “Tira o teu sofrimento dos demônios aprisionados dentro de mim” revela um desejo profundo de libertação e paz, mas também a dificuldade de escapar das trevas internas.

Essa canção pode ser enriquecida ao relacioná-la com a obra “A Divina Comédia” de Dante Alighieri. No épico, Dante viaja através do Inferno, Purgatório e Paraíso, enfrentando seus próprios demônios e buscando redenção. A luta contra demônios internos e a busca por alívio em “Caught In Silence” ecoam a jornada de Dante, que é marcada pela necessidade de confrontar e superar seus pecados e medos para alcançar a paz. A imagem do “lago de fogo” na letra lembra as representações do Inferno de Dante, onde a luta pela purificação e redenção é uma constante.

The Day I Dissolved (“O Dia em que me Dissolvi”)

“The Day I Dissolved” explora a ideia de dissolução e perda de identidade. A letra “O tempo não existe, somos escravos da distância” reflete sobre a natureza efêmera da existência e a dificuldade de encontrar significado em um mundo fragmentado. A música fala sobre a desintegração da realidade e a luta para manter a sanidade.

Para enriquecer essa interpretação, podemos relacionar a letra com a obra “O Processo” de Franz Kafka. Em “O Processo”, Kafka apresenta uma realidade absurda e opressiva onde o protagonista, Josef K., enfrenta uma perda gradual de controle e identidade diante de um sistema judicial incompreensível e impessoal. A desintegração da realidade e a luta para manter a sanidade em “The Day I Dissolved” ecoam a experiência de Josef K., onde a busca por sentido é continuamente frustrada pela natureza fragmentada e absurda do mundo ao seu redor. Kafka explora a alienação e a impotência humana em face de uma realidade caótica, temas que ressoam profundamente na letra da canção.

Watching The Drowners (“Observando os Afogados”)

“Watching The Drowners” apresenta uma metáfora poderosa de observação e impotência. A música descreve a batalha contra uma força inexorável e destrutiva, com imagens de ondas esmagadoras e uma luta pela sobrevivência. A letra “Somos os observadores, eles são os afogados” sugere uma separação entre aqueles que observam e aqueles que são consumidos pela própria destruição.

Essa canção pode ser enriquecida ao relacioná-la com a obra “O Velho e o Mar” de Ernest Hemingway. No romance, o protagonista Santiago luta contra uma maré implacável e enfrenta uma batalha extenuante com um peixe gigantesco, simbolizando a luta do homem contra forças avassaladoras da natureza e da vida. A impotência e a observação em “Watching The Drowners” ecoam a luta de Santiago, onde o mar atua tanto como adversário quanto como fonte de contemplação e reflexão. Hemingway explora temas de resistência, dignidade e a inevitabilidade da derrota, que reverbera profundamente na letra da canção.

In Hopeless Pursuit (“Em Busca Desesperançada”)

“In Hopeless Pursuit” explora a busca incessante por algo inalcançável e a perda de fé, simbolizada pela frase “Em busca desesperançada do coração de inverno do artista aleijado”. 

A luta fútil descrita na letra ecoa a jornada de Marlow em “Coração das Trevas” de Joseph Conrad, onde ele enfrenta a escuridão e a corrupção interna. A viagem de Marlow pelo rio Congo, em busca de Kurtz, é uma metáfora para a exploração das profundezas da alma humana e da busca por significado em um mundo marcado pela escuridão e pela desolação. 

Além disso, a desolação e a necessidade de encontrar sentido em um universo sem propósito ressoam com a filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre, especialmente em “O Ser e o Nada”, onde ele discute a criação de significado pelo indivíduo em um mundo indiferente.

Adoring Ashes (“Cinzas Adoradas”)

A faixa de encerramento, “Adoring Ashes”, trata da aceitação da irrelevância e da transitoriedade da vida. Com a linha “Permanecer inexistente, deleitar-se na irrelevância”, a música conclui o álbum com uma reflexão sobre a futilidade da existência e a busca por um propósito em um mundo indiferente.

Essa canção pode ser relacionada com a obra “As Cidades Invisíveis” de Italo Calvino. No livro, Calvino explora como as cidades e a vida humana são impermanentes e sempre mudam. Da mesma forma, “Adoring Ashes” fala sobre aceitar que a vida é passageira e que nossa existência pode parecer irrelevante. Essa reflexão se alinha com os temas de “As Cidades Invisíveis”, oferecendo uma perspectiva sobre encontrar beleza e significado na aceitação da mudança constante.

Conclusão

“Tunnel of No Light” é um álbum que, apesar de não trazer muitas inovações em relação aos trabalhos anteriores da banda, ainda é uma peça significativa dentro do doom metal. As faixas variam entre momentos de puro peso e passagens melódicas melancólicas, oferecendo uma experiência completa aos ouvintes que apreciam o gênero. Este relançamento em edição especial é uma adição valiosa para qualquer fã de October Tide e do Doom Metal em geral.

Lista de Faixas

1. Of Wounds to Come
2. Our Constellation
3. Emptiness Fulfilled
4. Caught in Silence
5. The Day I Dissolved
6. Watching the Drowners
7. In Hopeless Pursuit
8. Adoring Ashes

Gravadora: Cold Art Industry

Jornalista Filipe Souza - Cinco Miligramas de Misantropia

Filipe Souza

Editor / Jornalista Responsável

MTB32471/RJ

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🤘 Ah! E metaleiro;
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