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RETRO.Review: Marilyn Manson – Mechanical Animals

RETRO.Review: Marilyn Manson - Mechanical Animals

Introdução: O Bicho-Papão Brilhou em Neon

Em meados dos anos 90, a sociedade americana temia que um demônio midiático invadisse seus lares e corrompesse a mente de seus filhos.

O nome desse demônio?
Marilyn Manson.

Manson era o bicho-papão definitivo da época. Para os pais dos EUA, ele era o símbolo do fim dos tempos a degeneração encarnada em maquiagem, metal e blasfêmia.
Religiosos e políticos queriam bani-lo. A mídia o transformava em espetáculo.
Ele? Ele se divertia.

Mas em 1998, no auge dessa cruzada moral, Manson fez o impensável: trocou o inferno por Las Vegas.
E lançou o disco mais pop, mais glam e ironicamente mais humano da sua carreira.

1. Transmutação Sônica: Do Industrial ao Glam Mutante

Mechanical Animals é um corpo estranho:
Um disco feito por um anticristo que queria soar como David Bowie em pleno pânico milenar.

Sai o som industrial, opressor e apocalíptico de Antichrist Superstar; entra um rock eletrônico com alma glam, colorido, sujo, melódico e vicioso.
Soa como T-Rex chapado de Prozac, com pitadas de Nine Inch Nails tomando coquetéis com o Prince.

Manson aqui canta, geme, sussurra e até tenta soar vulnerável.
E consegue.

Segundo o site Kerrang!, o som do álbum é o equivalente musical a um “passeio solitário por uma cidade futurista e decadente, com néon pulsando sob a pele”. A produção de Michael Beinhorn ajudou a dar essa estética ampla e polida, sem perder o veneno.

2. Omega e Alpha: A Persona e o Homem

Manson cria Omega: um ser andrógino, alienado, fake a estrela artificial de uma banda fictícia chamada Mechanical Animals.

Mas com o tempo, as rachaduras aparecem.
Por trás da lente azul de contato, há Alpha, o humano tentando sentir algo em meio ao barulho.

O álbum é dividido em dois hemisférios:

  • O lado Omega: dançante, pop, sexual, debochado (The Dope Show, Rock Is Dead, User Friendly)
  • O lado Alpha: introspectivo, desesperado, quase espiritual (Disassociative, The Last Day on Earth, Coma White)

Omega é a estrela.
Alpha é a estrela morrendo.

Como disse o crítico da Sputnikmusic, “se Antichrist Superstar era um grito, Mechanical Animals é um soluço prolongado”. A dor aqui não explode — ela dissolve.

3. Drogas, Aparência e Consumo Emocional

As drogas não são o problema são o sintoma.
Manson fala de vício como quem já usou tudo:
Sexo, remédio, atenção, glamour, dor.

“I don’t like the drugs, but the drugs like me.”

É sobre o sistema que dopou toda uma geração com promessas de salvação embaladas a vácuo.
“Norm Life Baby”, diz ele, “nós somos testados, tratados, programados para funcionar”.
Mas no fim do dia, nada disso preenche o buraco no peito.

Como aponta a resenha da Tinnitist, Manson “usa o pop contra o próprio pop criando refrões viciantes que zombam da própria superficialidade da indústria”.

4. Visual e Provocação: A Nova Forma do Monstro

A estética de Mechanical Animals é uma bomba visual:
Um Manson nu, de corpo branco e seios falsos, olhando fixo para quem o condenava.

Inspirado por Bowie, Cindy Sherman, Matthew Barney, o novo visual escandalizou — porque era frio, limpo, plástico demais.
E isso era o ponto.

“Você quer algo bonito, mas não quer que sinta dor.” (Ele te entregou algo lindo… e cheio de dor por dentro.)

Em matéria da Revolver, o disco é descrito como uma era onde Manson se tornou “a estrela pop mais desconfortável de todas”, levando a estética do espetáculo à beira do colapso.

5. Amor, Vazio e um Final Gelado

No fundo, o disco é sobre solidão.
Sobre querer amor e não saber recebê-lo.
Sobre ver alguém quebrar e não poder salvar — nem a si mesmo.

Coma White, a faixa final, é uma oração triste a uma musa entorpecida.
Ela não sente. Ela não reage.
Ela é tudo o que o mundo quer: linda, quieta, drogada e morrendo aos poucos.

E Alpha, olhando tudo isso, diz:

“Todas as drogas do mundo não vão salvá-la de si mesma.”

Como escreveu um fã na r/Music: “Essa música é sobre a apatia final. Sobre assistir alguém afundar e perceber que você também está afundando, só que mais devagar.”

Considerações Finais

Hoje, Marilyn Manson é lembrado tanto pelos escândalos quanto pela música.
Mas Mechanical Animals é um lembrete de que, por um instante, ele foi brilhante.

Um artista no controle total da sua estética, disposto a correr riscos, a desafiar tudo e todos — inclusive a si mesmo.
Um alienígena que caiu na Terra e nos obrigou a encarar o espelho.

“Não era só sobre provocar.
Era sobre mostrar o quanto estávamos dispostos a sermos provocados.”

Filipe Souza

Filipe Souza

Editor / Jornalista Responsável

MTB32471/RJ

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– Jornalista, designer e Workaholic;
– Produtor de conteúdo e apresentador do canal Cinco Miligramas de Misantropia;
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