The Cure retorna às suas raízes com “Songs of a Lost World”, o melhor álbum desde Disintegration
Uma banda e seu legado de luto e introspecção
Após 16 anos de silêncio, o The Cure retorna em 2024 com Songs of a Lost World, um trabalho que não apenas resgata a profundidade emocional do clássico Disintegration (1989), mas também adiciona um novo peso pessoal às composições. Não tenho medo de dizer que esse é sem sombra de dúvida o melhor disco da banda dos últimos 30 anos.
O vocalista Robert Smith, único autor das letras desta vez, mergulha nas experiências de perda e envelhecimento, confrontando temas dolorosos como a morte de familiares próximos. Smith explora suas próprias lutas de maneira visceral, o que torna esse álbum um marco pessoal e artístico em quase 50 anos de carreira.
Estrutura e atmosfera sombria de Songs of a Lost World
Songs of a Lost World é composto por oito faixas densas, com arranjos atmosféricos que transportam o ouvinte para uma experiência introspectiva. Em alguns momentos o disco soa progressivo, mas dentro de sua áurea etérea, mórbida e sem brilho. Robert Smith conseguiu capturar toda a sua dor e transmutar em letras.
Faixas como “Alone”, com seus quase três minutos de introdução instrumental, e “Endsong”, a épica e melancólica conclusão do álbum, trazem uma mistura de guitarras distorcidas e teclados etéreos, evocando a essência da fase Pornography (1982) da banda. O álbum inteiro permanece em uma cadência lenta, refletindo a própria aceitação da passagem do tempo e a mortalidade, enquanto evita o otimismo das baladas pop de trabalhos anteriores.
Songs of a Lost World – Letras: poesia e dor em cada palavra
As letras de Smith estão entre as mais sombrias e reflexivas já escritas, explorando a dor da perda e a luta com a mortalidade de forma sincera. Em “I Can Never Say Goodbye”, ele lamenta a perda do irmão com versos como “Algo sinistro vem roubar a vida do meu irmão”, traduzindo um pesar pessoal em uma expressão universal de dor. Já em “And Nothing Is Forever”, Smith canta sobre o amor e sua fragilidade, ressaltando a impotência frente ao inevitável fim. A temática ambientalista também permeia o álbum, com referências à destruição ambiental em “Alone” e críticas sutis ao conflito geopolítico em “Warsong”.
As letras de Songs of a Lost World trazem uma profundidade visceral, onde Robert Smith canaliza a dor pessoal e o luto em versos de melancolia poderosa. Em “I Can Never Say Goodbye”, ele lamenta a morte do irmão com frases pungentes como “E eu não consigo acordar desse sono sem sonhos, por mais que eu tente”, transformando o pesar individual em uma reflexão universal sobre perda
Na faixa “And Nothing Is Forever”, Smith confronta a fragilidade do amor e a impotência diante da mortalidade, entoando: “Meu mundo envelheceu, e nada é para sempre”. Temas de destruição ambiental e o esgotamento emocional da humanidade emergem em faixas como “Alone” e “Warsong”, onde ele questiona: “Nascemos para a guerra?”, lançando críticas ao custo humano e ambiental de nossos conflitos e escolhas.
Songs of a Lost World: Produção e colaborações marcantes
A produção de Songs of a Lost World, a cargo de Smith e Paul Corkett (parceiro em Bloodflowers, de 2000), retoma o som característico da banda, com guitarras amplas e um tratamento cuidadoso dos teclados. Para ser ainda mais sincero, os teclados trazem um clima cinematográfico ao disco.
Este é o primeiro disco com o guitarrista Reeves Gabrels, que adiciona uma textura psicodélica ao som, enquanto Simon Gallup (baixo), Jason Cooper (bateria) e Roger O’Donnell (teclado) mostram um entrosamento lapidado em anos de turnês.
Conclusão: o retorno triunfal da melancolia do The Cure
Em Songs of a Lost World, o The Cure oferece aos fãs um álbum que pode ser visto como um tributo sombrio à própria trajetória de Smith. É uma jornada reflexiva que ressoa fortemente com os fãs mais antigos e deve impressionar as novas gerações, solidificando o legado da banda. Com uma produção que valoriza o clima e letras que tocam nas feridas mais profundas, Songs of a Lost World é um testemunho poderoso da maturidade artística e pessoal de Smith, e, possivelmente, o álbum mais importante do The Cure nas últimas décadas.
Lista de músicas
- Alone
- And Nothing Is Forever
- I Can Never Say Goodbye
- A Fragile Thing
- Warsong
- All I Ever Am
- Drone
- Endsong