A sétima temporada de Black Mirror chegou à Netflix com a promessa de mais uma dose de piração tecnológica, dilemas morais e distopias elegantes embaladas por atuações de peso. Mas tem um detalhe que talvez você não tenha notado — ou que tenha sentido no fundo da alma: o futuro que Charlie Brooker apresenta já começou. E o mais assustador? Grande parte dele já está disponível em versão beta, pitch de startup ou chip de titânio instalado no cérebro.
Separamos aqui 6 tecnologias reais que mostram como a nova temporada de Black Mirror deixou de ser ficção para virar uma extensão da realidade. Spoiler: não vai dar tempo de fugir.
1. Ressuscitando Memórias: O chip do Elon Musk e o episódio “Eulogy”
No episódio estrelado por Paul Giamatti, um homem revive cenas do passado literalmente andando dentro delas. Parece uma metáfora poética? Talvez. Mas é também uma prévia sinistra do que a Neuralink, de Elon Musk, está desenvolvendo: chips cerebrais capazes de registrar, interpretar e (em tese) reproduzir memórias.
Aliás, a DARPA já financiou experimentos com próteses de memória para soldados com lesões cerebrais. Imagine acessar suas lembranças como quem folheia um álbum do Facebook. Agora imagine ficar preso nelas. Exatamente.
2. IA no Cinema: “Hotel Reverie” e a morte do ator humano
Issa Rae protagoniza uma atriz que entra digitalmente em um filme antigo, atuando ao lado de ícones reconstituídos por IA. E se você achou surreal, recomendo assistir aos testes da Runway, da Synthesia ou da Deep VFX, que já conseguem criar performances realistas com rostos recriados, falas sintéticas e movimentos que desafiam a realidade.
A Warner e a Disney já digitalizaram atores. Atores como Bruce Willis e James Earl Jones já venderam os direitos sobre sua imagem digital. Estamos prontos para uma geração de celebridades que nunca existiram.
3. Planos de saúde por assinatura e o horror silencioso de “Common People”
O casal vivido por Rashida Jones e Chris O’Dowd entra em um plano de saúde que parece resolver tudo, até começar a cobrar mais para funções “premium”. Paranoia? Veja os casos nos EUA de empresas como One Medical ou Forward, que oferecem modelos de medicina baseada em assinatura e IA.
A cereja do bolo? O uso de IA para prever doenças antes dos sintomas aparecerem — algo já explorado por startups no Vale do Silício. O problema não é o algoritmo prever. É ele decidir quanto sua vida vale.
4. Clones digitais conscientes: “USS Callister – Into Infinity” e o fantasma da mente
O novo episódio de “USS Callister” traz de volta os clones digitais presos em um videogame estilo MMORPG. Isso te soa absurdo? Pois saiba que cientistas como Ramez Naam e Ray Kurzweil preveem o upload de consciência humana como uma possibilidade real até 2045.
A questão ética é brutal: se a cópia é fiel, ela sente? Ela sofre? E se você criou essa cópia como parte de um jogo… ela pode querer vingança?
5. NPCs com Emoções: o realismo perturbador de “Plaything”
Peter Capaldi vive um homem obcecado com personagens de IA em um game. E sim, parece exagero — até você conhecer empresas como Inworld AI e Convai, que estão desenvolvendo NPCs com emoções, memórias e até traumas programáveis.
Eles já conseguem lembrar do que você disse ontem e responder com base em sentimentos simulados. Agora pense: se você humilha um desses personagens… ele lembrará.
6. Manipulação emocional e gaslighting algorítmico: “Bête Noire” já está acontecendo
O episódio “Bête Noire” trata da erosão psicológica causada por uma rival usando manipulação sutil. Só que essa manipulação já pode ser feita por IA. A Meta (Facebook) já testou detecção emocional por câmera. A China aplica vigilância emocional em escolas e fábricas.
E mais: robôs de conversa como o Replika criam laços emocionais tão fortes que alguns usuários relataram dependência afetiva. Se uma IA pode conquistar seu afeto, ela também pode destruir sua sanidade?
Conclusão: e se Black Mirror não for mais um espelho do futuro, mas do presente?
A 7ª temporada de Black Mirror pode até ser irregular em termos de impacto narrativo, mas uma coisa ela deixa claro: a fronteira entre realidade e distopia está cada vez mais pixelada. A série não está mais prevendo o futuro — ela está documentando o presente em forma de pesadelo estilizado.
E como dizia Colin Ritman lá em Bandersnatch:
“Você acha que está no controle, mas você não está.”