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Cinco Miligramas de Misantropia

Covenant – Nexus Polaris Ascensão e Queda

Covenant - Nexus Polaris "Ascensão e Queda"

Os anos noventa foram marcados pela ascensão e o caos no Black Metal ou vice versa, você escolhe. O estilo se organizou em gangues para queimar igrejas, teve músicos envolvidos com assassinatos e musicalmente foi se transformando na mesma intensidade que vivia seus anos de expurgo, delitos e blasfêmias sociais.

No lado musical do gênero, que é uma das subdivisões mais controversas do heavy metal, o Black Metal ganhou também alguns subgêneros, como foi o caso do Black Metal Sinfônico.

Em meados dos anos 90 esse “novo” gênero encabeçado pelos britânicos do Cradle of Filth e os noruegueses do Dimmu Borgir pariram diversas outras bandas. Não que eles fossem os criadores do gênero, mas foram responsáveis pela alta popularização.

Todo o fomento em torno do Black Metal e o mercado aquecido fizeram com que novos projetos surgissem e um desses projetos que até hoje traz saudosismo e boas conversas é sem dúvida o Covenant com o seu estupendo Nexus Polaris.

Eu conheci o Nexus Polaris graças a uma enxurrada de discos bons que saíram em 1998 e a minha paixão louca pelo Cradle of Filth e o Cruelty and the Beast. Em um ano onde eu pirei com Anathema, Therion, Sentenced, Theatre of Tragedy, Death, Borknagar entre outros lançamentos fenomenais naquele ano, eis que me vem o Covenant.

O lado bom de falar sobre a retrospectiva de um disco como esse é que podemos voltar ao passado e reviver as memórias afetivas o que traz à tona o que foi aquele cenário épico. E podemos também comentar o que aconteceu depois desse trabalho, qual foi o caminho traçado pelo grupo após Nexus Polaris.

Lançado em 24 de março de 1998, Nexus Polaris foi o segundo álbum do Covenant é um salto estratosférico em sua jovem carreira. Antes desse clássico a banda já havia lançado “In Time Before the Light” em 1997 por um selo pequeno, mas foi o suficiente para chamar a atenção da Nuclear Blast. Esse primeiro álbum traz um Covenant mais Black Metal com elementos tradicionais como o azedume, que é inerente ao estilo.
Mas o Nexus Polaris foi um salto quântico na carreira da banda em diversos quesitos, como: produção do disco, qualidade, criatividade, design entre diversos outros elementos.

Um supergrupo do Black Metal

O Covenant chegou com Nexus Polaris já com a fama de ser um super grupo e que deixou a todos de queixo caído. Entre os fundadores estão Blackheart na guitarra e ninguém menos do que o Nagash do Dimmu Borgir assumindo o posto de baixo e vocal.

Nagash canta em Nexus Polaris de forma absurda e remetendo ao Black Metal, mas variando a voz e a performance durante todo o disco.

Em algumas passagens Nagash parece um Goblin (duende) satânico vomitando impropérios cósmicos em outros momentos a incorporação de uma legião de demônios astrais.

Entre os outros membros influentes da cena Black Metal dos anos 90 temos o lendário baterista Hellhammer, a máquina de moer crânios do Mayhem. Porém, aqui em Nexus Polaris ele está mais equilibrado e técnico. Sem muitos blast beats desnecessários, e isso fez toda a diferença para o enriquecimento e pluralidade criativa do grupo.

Mais um ingrediente de requinte e riqueza nesse disco são os backing vocals de Sarah Jezabel Deva, que até aquele momento havia cantado nos primeiros álbuns do Cradle of Filth e também no Vovin do Therion, lançado no mesmo ano do Nexus Polaris.

Na guitarra outro até então membro do Dimmu Borgir, Astennu. E para os sintetizadores multidimensionais Sverd, que já foi da banda Arcturus.

Mas o Covenant nem é Black Metal

Concordo que talvez o Covenant não se encaixe nos moldes tradicionais e mais populares das bandas de Black Metal, principalmente nos quesitos musicais, nas letras e na estética, mas alguns elementos do estilo estão sempre presentes e trabalhando em conjunto com experimentos, que até então eram novidades para o gênero.
Acredito que a falta de corpse paint e fugir da temática satanista já são elementos suficientes para os mais catedráticos do estilo torcerem o nariz, mas isso já aproximou outros fãs para a base do Black Metal.

Talvez o Covenant também não precise de toda uma sinfonia para figurar dentro do Black Metal Sinfônico, mas seus elementos e arranjos músicas meio estranhos aliado aos sintetizadores e piano, cumprem muito bem o trabalho e permita a banda resvalar no Black Metal Sinfônico.

Ou seja, se é ou não Black Metal? Ou se é um Black Metal Experimental. Não importa!

A festa do enxofre nas bizarras indústrias cósmicas

A festa do enxofre nas bizarras indústrias cósmicas

Abrindo o disco com “The Sulphur Feast” e “Bizarre Cosmic Industries”, você já tem um resumo do que será o trabalho, o seu peso, as características sombrias, soturnas e em outros momentos até esquizofrênicas das composições.

As guitarras desse álbum também fogem dos padrões Black Metal, já que são mais ritmadas e melódicas em diversos momentos, o que aproxima o instrumental de Nexus Polaris para um Power Metal e até lembra o Iron Maiden.

E assim caminha todo o disco, com cada membro executando da melhor forma possível o seu papel e transformando todas as músicas em produções espetaculares.

Acho difícil encontrar alguém que não goste desse disco.

A belíssima capa

A belíssima capa

Com tudo do bom e do melhor para o Covenant é lógico que a parte gráfica do trabalho seria assinada por um artista de renome. E na década de 90 não tinha ninguém com mais nome assinando as capas dos discos do que o alemão Andreas Marschall.

Em uma entrevista para a Rock Brigade em 1998 eu li que a inspiração que o Andreas Marschall teve para essa capa surgiu após o encontro pra lá de sombrio com uma garota e sonhos corriqueiros que ele teve com ela.

Ascensão

Com Nexus Polaris e toda a estrutura da Nuclear Blast à seu favor, o Covenant ganhou o mundo. A banda fez uma turnê de duas semanas pela Europa, ficou em evidência na tv norueguesa e ganharam o Grammy norueguês como a melhor banda de Hard Rock daquele ano.

A queda

Depois desse disco fabuloso, o Covenant virou uma aberração neo industrial moderna com batida eletrônica, ou seja, no popular: virou uma grande bosta.

Hoje eu até consigo gostar e entender. Talvez gostar eu acho que é muito, mas eu consigo entender o que virou o Covenant, que na verdade mudou o nome para The Kovenant, já que existia uma outra banda na Suécia com o mesmo nome.

O cenário eletrônico do final dos anos 90

É importante tentar entender como era o cenário musical de meados dos anos 90 até o final da década. Algumas bandas que misturavam música eletrônica com rock surgiram e foram expoentes como o Prodigy. O Metal Industrial também estava em alta e investiu em elementos eletrônicos como o Ministry, Nine Inch Nails entre outros. O Rammstein fazendo um sucesso absurdo.

Parecia que toda a banda para soar moderninha precisava samplear as suas músicas. O Sepultura lançou um B-Sides com faixas do Chaos Ad remixadas com batidas eletrônicas e até o Cradle of Filth lançou mão de artifícios como esses.

Os caras eram novos e piraram com o que estava acontecendo, sendo assim partiram para uma fase eletrônica com metal.

Não vou comentar aqui sobre esses discos. Mas como fã da banda e essa matéria é de fã para fã, então acho que a banda poderia ter mudado completamente de nome.

Poderiam ter feito como o Deathstars, que começaram com a banda Swordmaster em 1993 e lançaram apenas dois discos, logo depois parte do grupo montou o Deathstars e em 2002 já estavam com seu primeiro disco no mercado.

Mas enfim, não quero me aprofundar em nada do que aconteceu com o Covenant pós Nexus Polaris. Sem radicalismo, mas nada do que fizeram foi relevante ou com alguma qualidade.

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