O ano era 1998, quando ouvi o Cruelty and the Beast pela primeira vez! E foi aquela catarse pela qual o Metal Negro e extremo passou, com a fusão de diversos outros gêneros e uma nova abordagem nos conceitos líricos e estéticos que moldaram não somente o cenário do estilo no final do século, mas também a personalidade e a vida de diversos fãs ao redor do mundo.
Fãs que encontraram em bandas como Cradle of Filth, Covenant, Graveworm, Therion, Mortiis um elo em comum… Na verdade ficamos hipnotizados pelo canto de uma sereia… Que leva o nome de Sarah Jezebel Deva!
Isso mesmo senhores! Essa cantora fabulosa começou cedo em 1993 e aos 16 anos com a sua banda Punk chamada Mad Dog, onde gravaram o álbum “Howling at the Moon”.
Pouco tempo depois os fundadores do Cradle of Filth, Paul Allender e Dani Filth conheceram Sarah através de amigos em comum. E é a partir desse ponto que a história começa.
A voz de Sarah é encontrada nos principais discos de Black, Death e Doom Metal dos anos 90. Sua estreia foi no disco “Vempire/Dark Faerytales In Phallustein” lançado em 1996. Mas foi com “Dusk Her Embrace” (1996) e “Cruelty and the Beast” (1998) que todo seu esplendor como vocalista surge.
É justamente a voz doce e firme de Sarah que dá o tom tétrico de terror, sedução e mistério que tornaram esses discos do Cradle of Filth tão especiais e emblemáticos para mim. Seja como coro hipnotizante ou narrações cruéis e aterrorizantes, a voz de Sarah é elemento fundamental.
Hear me now!
All crimes should be treasured,
If they bring thee pleasure somehow…
Me ouça agora!
Todos os crimes devem ser valorizados se de alguma forma lhe trouxerem prazer…
E é justamente entoando uma das introduções mais emblemáticas do Black Metal nos anos 90, que Sarah chamou a minha atenção. O disco “Cruelty and the Beast” (1998) foi o trabalho do Cradle of Filth que me fez mergulhar de vez para dentro desse movimento de bandas absurdamente criativas que chegavam ao cenário Metal naquele ano.
Em um trabalho que aborda a vida cruel e sanguinária da Condessa húngara Elizabeth Bathory, o Cradle of Filth soube muito bem trabalhar as inserções e adicionar uma maior participação de Sarah durante todo o disco. Essa maior participação nas músicas aumentou e muito toda a carga de dramaticidade e terror que o disco pedia.
Mas nem tudo foram flores para Sarah, em diversas entrevistas a vocalista demonstrou a sua insatisfação com a mixagem do disco que não valorizou o seu trabalho vocal.
A produção e mixagem de Cruelty and the Beast atraiu algumas críticas, principalmente pela qualidade do som da bateria e dos vocais de Sarah.
Sarah Jezebel Deva revelou nos fóruns oficiais da banda o seguinte: “[A produção é] um lixo absoluto. Lembro-me de quando ouvi pela primeira vez – Dani tocou – saí com lágrimas nos olhos. Passei vinte e cinco horas trabalhando no estúdio naquele álbum e parecia que eu estava com a cabeça no banheiro […] a maioria dos meus vocais você não conseguia ouvir.”
Depois de sair da sala onde Dani Filth tocou o álbum para ela, Deva esbarrou com o baterista Nicholas Barker, que também expressou sua insatisfação. Em entrevista ao Scars and Guitars em 2020, Barker afirmou que chorou ao ouvir a mixagem e exigiu que o lançamento do álbum fosse adiado.
Sarah Jezebel Deva brilhou no álbum “Vovin” do Therion, uma verdadeira joia na coroa da banda sueca liderada pelo talentoso Christofer Johnsson. Sua performance em “The Rise of Sodom and Gomorrah” é um espetáculo de puro talento e emoção. Em uma publicação emocionada no Facebook, Sarah celebrou os 24 anos de “Vovin”, compartilhando memórias da sua colaboração com o Therion, destacando a confiança que Johnsson depositou nela, apesar de sua inexperiência em ópera.
Em “Nexus Polaris” do The Kovenant, a magia dos vocais de Sarah adiciona um nível de grandiosidade, enriquecendo faixas como “Chariots of Thunder” e “Bringer of the Sixth Sun”. Sua habilidade em complementar a música com sua voz é evidente, mostrando como ela eleva cada composição em que participa.
Aqui no canal você encontra um vídeo completo sobre o Nexus Polaris, mas vou repetir que o ingrediente de requinte e riqueza desse disco fica por conta dos backing vocals de Sarah Jezebel Deva.
Com os italianos do Graveworm, Sarah participou do EP “Underneath the Crescent Moon”, especialmente na faixa “Awake…Thy Angels Of Sorrow”, mostrando sua versatilidade e contribuindo para a transição da banda para sonoridades mais doom e góticas.
Ainda no cenário do black metal norueguês, Sarah emprestou sua voz para “Vetterels”, do Tulus, marcando presença com sua assinatura vocal única. E não podemos esquecer de sua participação no álbum “Infernal Satanic Verses” da banda alemã de Black Metal Mystic Circle, especialmente na faixa “One With The Antichrist”, onde sua performance é simplesmente arrebatadora.
Em cada colaboração, Sarah Jezebel Deva não apenas empresta sua voz, mas também sua essência, deixando uma marca permanente que ressoa na memória dos fãs e na história do Metal Extremo.
Sarah juntou forças com o enigmático e austero Mortiis em sua epopeia orquestral cinematográfica “The Stargate”, lançado em 1999. Um disco fabuloso para ouvir no meio da floresta observando à sua frente uma área descampada e iluminada pela luz da lua enquanto observa luzes estranhas no céu em um bailar hipnótico. Essa é a sensação que tenho ao ouvir as lamúrias de Sarah e imaginar que seu canto ressoa por entre as árvores e um frio gélido da noite toma conta da sua alma.
Em 2001 Sarah voltou a trabalhar com Mortiis em “The Smell of Rain”, um trabalho mais voltado ao experimentalismo eletrônico/industrial/gótico. Esse já é um trabalho mais vibrante e conectado com muitos trabalhos de outras bandas lançados nessa época, como o Theater of Tragedy com Musique (2000) e Assembly (2002), além do The Kovenant com Animatronic (1999), só pra citar esses.
E a jornada de Sarah Jezebel Deva nos leva ainda mais longe, atravessando o vasto universo do metal com sua voz única e inconfundível. No Cradle of Filth, ela emprestou sua voz até 2008, adicionando uma camada extra de beleza e profundidade em uma série de álbuns que marcaram época. De “Dusk and Her Embrace” a “Godspeed on the Devil’s Thunder”, sua presença é uma assinatura inconfundível do som da banda.
Em 2002 Sarah participou no EP “Black Light District” dos holandeses do The Gathering. Mas a saga não termina aqui. Sarah Jane, como foi creditada em algumas de suas colaborações, também brilhou em “From Shadows Came Darkness” do Mendeed, adicionando uma dimensão emocional intensa ao EP. Sua voz se entrelaça com o tecido sonoro de bandas como Dawn of Ashes em “Harvest the Impaled” e Trigger the Bloodshed em “Purgation”, onde sua participação em “A Perfect Casket” é simplesmente arrepiante.
Com a banda de Death Metal australiana Earth, em “Fear of Tomorrow”, ela nos convida a não olhar para trás, enquanto sua colaboração com os irlandeses góticos do Creation’s Tears em “Methods to End It All” ressoa com uma beleza melancólica profunda.
Em “Mind Games” dos ingleses do Silent Descent, Sarah nos conduz por uma viagem introspectiva, e sua participação com Hecate Enthroned, tanto em “Virulent Rapture” quanto em “Embrace of the Godless Aeon”, mostra uma artista no auge de sua expressividade.
E não podemos esquecer da banda americana de Death Metal Warthrone em “Crown of the Apocalypse” e os suíços do Impalement com a faixa “The Impalement”, onde sua voz se eleva majestosamente, adicionando uma profundidade e muita emoção que só ela pode trazer ao Black Metal ríspido da banda.
Em 2021, Sarah Jezebel Deva emprestou seu talento inconfundível à banda brasileira Carnified, contribuindo para o single “Nocturna”.
Além disso, sua carreira solo é um testamento de sua versatilidade e talento. Desde “A Sign of Sublime” até “The Corruption of Mercy” e o recente EP “Malediction”, Sarah mostra que sua arte transcende colaborações, brilhando intensamente em sua própria luz.
A cereja do bolo vem com o Torn Between Two Worlds, sua parceria com Chris Rehn, onde a emocionante interpretação de “Hello”, originalmente de Adele, nos mostra uma artista que, longe de descansar em seus louros, continua a explorar, experimentar e emocionar. Sarah, com sua humildade e paixão, nos lembra do poder da música em tocar corações e transformar almas.
Através de cada nota cantada e cada palavra entoada, Sarah Jezebel Deva não apenas participou da história do metal; ela a escreveu com sua própria voz, deixando um legado que ressoará por gerações.
Em uma entrevista reveladora ao site Terra Relicta, Sarah Jezebel Deva compartilhou insights sobre sua evolução vocal e as escolhas artísticas que moldaram sua carreira. Ela abordou a transição de seus icônicos vocais operísticos para uma gama mais ampla de estilos, refletindo sobre seu álbum solo “The Corruption Of Mercy” e o EP “Malediction”, onde explorou além do operístico. Sarah enfatizou sua busca por versatilidade, desejando mostrar sua capacidade de navegar por diferentes maneiras de cantar, mantendo a promessa de que o operístico ainda terá seu lugar em futuros trabalhos.
Quando questionada sobre os álbuns dos quais mais se orgulha, Sarah destacou “Nexus Polaris” do The Kovenant como uma obra-prima, rememorando sua colaboração com músicos excepcionais em um projeto que ainda ressoa fortemente com ela. Além disso, ela mencionou “V Empire” e “Midian” do Cradle Of Filth como pontos altos de sua carreira, junto com sua paixão pela faixa “Awake… Thy Angels Of Sorrow” do Graveworm, expressando gratidão pelas oportunidades de colaborar em tantos projetos influentes.
Sarah também compartilhou suas influências vocais, citando Ofra Haza e Diamanda Galas como impactos significativos em seu estilo, especialmente em suas contribuições para “V Empire” do Cradle Of Filth. Apesar de suas raízes na música pop dos anos 80, ela encontrou inspiração em ícones do metal e mencionou o álbum “In The Nightside Eclipse” do Emperor como uma influência fundamental, destacando como diferentes gêneros e artistas moldaram seu estilo único.
Em uma conversa por email que eu tive com Sarah ela também quis mencionar Madonna como inspiração, ela disse: “- Madonna foi uma grande influência para mim enquanto crescia, sua expressão e sua luta para ser quem ela queria ser sem ser derrotada.”.
Essa entrevista ao site Terra Relicta oferece uma janela para o mundo artístico de Sarah Jezebel Deva, revelando a profundidade de sua arte, suas reflexões sobre a carreira e as influências que a levaram a se tornar a vocalista versátil e respeitada que é hoje.
Fonte: Terra Relicta – www.terrarelicta.com.
Em uma entrevista profunda no Scars and Guitars Podcast, Sarah Jezebel Deva compartilhou suas vivências no lado empresarial da música, refletindo sobre os desafios enfrentados em sua carreira solo e suas interações com a indústria. Ela revelou histórias comoventes sobre carreira e a importância de decisões estratégicas, além de expressar sua frustração com determinados indivíduos na indústria musical, sejam músicos, produtores ou empresários.
Deva também abriu o coração sobre experiências pessoais, incluindo o bullying sofrido no Cradle of Filth e os desafios de saúde mental que enfrentou, destacando a falta de empatia e apoio naquela época.
Ela falou sobre a dinâmica de poder e as dificuldades de se estabelecer como artista solo, detalhando as lições aprendidas e os relacionamentos dentro da indústria que moldaram sua trajetória.
Além disso, Deva compartilhou a redescoberta de sua paixão pela música após um hiato, impulsionada pela colaboração em novos projetos e pelo apoio contínuo de amigos e colegas.
Ao longo da entrevista, Sarah Jezebel Deva destacou a evolução da indústria musical, a influência das receitas publicitárias e o impacto da família em sua carreira, ressaltando a importância de um sistema de apoio sólido.
Apesar dos obstáculos e críticas, ela permanece grata aos fãs e aliados que a apoiaram, reafirmando seu amor duradouro pela música e sua gratidão pela oportunidade de continuar compartilhando sua arte.
Fonte: Scars and Guitars Podcast.
Sarah Jezebel Deva, uma sereia do metal, teceu sua magia vocal através de décadas, deixando um legado inesquecível no mosaico do metal extremo. Desde os primeiros dias com o Cradle of Filth até suas colaborações com bandas como Therion, The Kovenant e Graveworm, Sarah não apenas emprestou sua voz, mas seu coração e alma a cada performance. Suas jornadas solo e parcerias, como com o Torn Between Two Worlds, revelam uma artista que recusa a estagnação, buscando constantemente novos horizontes artísticos.
Em cada nota e cada palavra cantada, Sarah demonstrou que sua arte vai além das colaborações, iluminando o caminho com sua própria luz. Ela nos lembra do poder da música de tocar corações e transformar almas, e através de sua paixão e talento, Sarah Jezebel Deva não apenas participou da história do metal extremo – mas ela ajudou e muito a reescrever, criando um legado que ecoará por gerações. Com sua voz, ela transformou o metal extremo, e com sua paixão, ela tocou nossos corações enegrecidos.
Obrigado Sarah Jezebel Deva!
👽 Gateiro, thelemita, amo a cultura hindu;
👽Converso sobre aliens, esoterismo, Google Ads e receita de bolinho de chuva!
📀Colecionador de LPs, CDs, Livros e histórias;
🤘 Ah! E metaleiro;
🃏Jogo uns tarôs de Crowley;
– Jornalista, designer e Workaholic;
– Produtor de conteúdo e apresentador do canal Cinco Miligramas de Misantropia;
– Amo cozinhar e degustar cervejinha artesanal;
A/C: Filipe Souza
Rua Jorge Batista Sampaio, 180
Bloco 4A - Apto: 401
Cidade Alegria
Resende/RJ
CEP: 27524-110
(21) 97260-4582
Vamos bater um papo sobre música, seja metal, death, thrash ou até rap. Não haverá limites. Abordaremos as culturas marginais satélites da música pesada: quadrinhos, filmes, séries, terror, ocultismo, jogos e literatura. Os anos 90 estarão em evidência em uma dança com o presente e na tentativa de se esquivar da humanidade.