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Cinco Miligramas de Misantropia

SAXON – Hell Fire And Damnation

SAXON - Hell, Fire And Damnation

É inacreditável, o Saxon chegou ao seu 24º disco de estúdio com uma garra de fazer inveja a todos os seus contemporâneos. Os caras não tiraram o pé do acelerador. E não prestaram contas ao tempo, eles foram lá e mandaram na lata o melhor disco de 2024! Os outros que se lasquem para superar!

O disco foi produzido pelo brilhante Andy Sneap, que já trabalhou com Judas Priest, Exodus, Kreator e Megadeth. Sente o nível.

Antes de falar do disco novo, deixa eu pontuar a minha relação de amor e ódio com a banda.


Quem não conhece o Saxon, saiba que são uma das mais importantes bandas da NWOBHM, que lançou seu primeiro disco em 1979. Eu conheci o Saxon em 1993 com o disco Forever Free, a capa com a águia chamou a minha atenção e comprei o disco! E foi paixão no ato! Em 1995 comprei o fabuloso “Dogs of War” e em 1997 o estupendo “Unleashed the Beast” me fez ficar fanático na banda, principalmente depois do show deles no Monsters of Rock de 1998.

E foi no final de 98 que fui buscar os discos mais antigos da banda pra ouvir, e foi uma baita decepção. os discos nos anos 80 da banda são muito fracos, mal produzidos, e nem adianta vir com o papo que o Saxon influenciou X, Y e Z bandas por aí. Legal, respeito o legado, mas como fã acho uma bosta.


Pra mim a banda só foi engrenar mesmo no final dos anos 80 com o disco Destiny lançado em 1988. Em 1991 o grupo retornou com o fantástico Solid Ball of Rock, ou seja, a banda foi muito bem nos anos 90, produzindo material de alta qualidade. Mas com esse currículo invejável de ótimos álbuns nos anos 90, parece que o grupo meio que se acomodou nas duas décadas seguintes. Lançou álbuns medianos, com a mesma fórmula dos álbuns de meados dos anos 90.


Mas com “Hell, Fire And Damnation” a banda quase superou a ferocidade de discos como “Unleashed the Beast” e “Dogs of War”. E fugiram da mesmice dos últimos discos. Galera, não estou dizendo que são discos ruins, só digo que eram meio lugar comum. Depois do álbum Metalhead de 1999, o Saxon investiu no “mais do mesmo”, são discos bons, mas “Hell, Fire And Damnation” veio pra quebrar tudo!

Com a saída do guitarrista Paul Quinn, um dos fundadores da banda, o Saxon recrutou para o seu posto ninguém, menos que Brian Tattler do Diamond Head.


O Saxon soube muito bem como fisgar os fãs com dois singles pré lançamento, o primeiro com um clipe para a faixa título “Hell, Fire And Damnation”, mostrando todo o peso e dinamismo que os coroas saxões ainda podem proporcionar. A letra aborda a secular luta do bem contra o mal.


E o vocalista Biff Byford explicou o título do álbum para o jornalista Mike Ainscoe: “Eu tenho esse ditado na cabeça desde que era pequeno, porque meu pai costumava dizer isso quando estava chateado ”, esclarece o vocalista do Saxon, Biff Byford. “ Ele costumava dizer: ‘Inferno, fogo e danação, o que você está fazendo agora?!’ quando eu estava bagunçando seu canteiro de repolho ou esculpindo coisas na mesa da cozinha. Era um ditado muito ‘Yorkshire’ naquela época.

 

Logo após o clipe da faixa título do álbum, o Saxon lançou outro clipe, esse mais elaborado para a faixa “There’s Something in Roswell”, que já pelo título entrega a narração muito bem conduzida sobre o famoso incidente ufológico de Roswell no Novo México.


Mas vamos começar pelo começo! A introdução épica com “The Prophecy” e a narração do famoso ator Brian Blessed dá o tom apocalíptico do disco que é recheado de boas histórias. Não limite-se apenas a ouvir as músicas, leia as letras!

Voltando ao disco, após a faixa título, um baixão carregado apresenta a Madame Guilhotina!!! Separei um trecho da mórbida letra:

Eles me chamam de morte
Eu vim para saldar suas dívidas
Maria Antonieta
Eu tirei sua linda cabeça
Eu sou o flagelo dos ricos
Vingança dos pobres


Melódica e cadenciada, essa canção é uma ode para uma maravilhosa e rápida solução para toda a burguesia! São de cinco minutos onde o peso se transforma em uma viagem alucinante com um solo cortando a faixa e que tem uma assinatura única.


O que foi “Fire and Steel”? Perdoe-me as comparações, mas a banda incorporou um Judas Priest nesse momento!

A música “Fogo e Aço” é uma vibrante homenagem à indústria do aço de Sheffield, uma cidade inglesa renomada por sua produção de aço. A letra celebra o processo de fabricação do aço, desde a alimentação das fornalhas até a moldagem do ferro, ressaltando o trabalho árduo e as habilidades dos operários. Essa narrativa poética enaltece o espírito de dedicação e a excelência do aço produzido em Sheffield, reconhecido mundialmente pela sua qualidade superior.

Além de destacar a força física e a resiliência dos trabalhadores, a música também reconhece a inovação e o avanço tecnológico na produção do aço, posicionando Sheffield como um centro de conhecimento e desenvolvimento industrial. “Fogo e Aço” é mais do que uma canção; é uma celebração do orgulho e da tradição de Sheffield, ilustrando o impacto significativo da cidade no cenário global da siderurgia e sua identidade cultural profundamente enraizada na indústria do aço.


Em “Kubla Khan and the Merchant of Venice” o Saxon consegue ser épico e poético liricamente, mas destruir tudo com um instrumental surreal de pesado, para os moldes da banda.
A canção “Kubla Khan and The Merchant of Venice” do novo álbum do Saxon é uma fascinante viagem musical que entrelaça história e literatura, trazendo à vida as lendárias figuras de Kubla Khan e o Mercador de Veneza. A letra da música nos transporta através da Rota da Seda até os confins do Império Chinês, evocando imagens de riquezas incalculáveis, mitos antigos e a majestosa Grande Muralha da China. Cada verso é uma tapeçaria que tece a narrativa das aventuras épicas de um viajante, provavelmente inspirado na figura histórica de Marco Polo, que se aventura desde a cidade aquática de Veneza até os grandiosos domínios de Kubla Khan.

A música capta a essência da busca pelo desconhecido e a maravilha da descoberta. Através das descrições vívidas, o ouvinte é levado a uma jornada que atravessa desertos escaldantes e chega às cidades esplendorosas, simbolizando a ponte entre o Ocidente e o Oriente. A referência a Marco Polo destaca a conexão entre o explorador veneziano e a China, misturando realidade e fantasia para criar uma experiência auditiva que é tanto histórica quanto mística. Este é um tributo às jornadas que moldaram a história e à curiosidade incansável do espírito humano, expresso na grandiosidade épica típica do Saxon.

E o Saxon resolveu usar esse disco para contar grandes e inspiradoras histórias como em “Pirates of the Airwaves”. Mantendo peso e a criatividade tradicional do disco, sem querer inventar a roda, o Saxon é direto e envolvente com solos fascinantes e levada jovial com “Pirates of the Airwaves”.


E essa canção capta a essência rebelde e a emoção dos primeiros dias do rock ‘n’ roll. Através de suas letras, a música narra a história de um adolescente imerso no mundo mágico da música, sintonizando seu rádio transistor em busca das vibrantes melodias dos Rolling Stones. Esta busca musical é ambientada no contexto das emissoras de rádio pirata, como Rádio Luxemburgo e Rádio Caroline, que desafiavam as convenções e as regulamentações governamentais para trazer o rock ‘n’ roll até os ouvintes jovens e ansiosos. Estes “piratas das ondas de rádio” representam não apenas a liberdade musical, mas também uma revolução cultural, enfrentando a lei e as fundações morais e arcaicas da época para manter a música tocando.

 

A letra evoca um tempo em que a música era uma forma poderosa de rebelião e expressão, uma força que unia a juventude e impulsionava mudanças sociais. O refrão “Piratas, piratas das ondas de rádio” ressoa como um hino à desobediência e ao espírito indomável da juventude daquela época. A canção celebra a era em que o rock ‘n’ roll era mais do que música; era um símbolo de liberdade, uma voz para a geração que buscava se expressar e se fazer ouvir em um mundo em constante mudança.


Fazendo justiça a história fascinante que a faixa “1066” aborda, o Saxon vem como uma marcha para a guerra contando a história da invasão inglesa naquele ano.
A música “1066” do novo álbum do Saxon é uma poderosa crônica musical que narra um dos eventos mais significativos da história medieval: a Batalha de Hastings e a conquista normanda da Inglaterra. A canção detalha a invasão liderada por Guilherme, o Conquistador, em 1066, começando com seu desembarque na costa de Pevensey e culminando na histórica batalha. As palavras pintam um retrato vívido da luta entre os exércitos normando e saxão, destacando a brutalidade e as consequências da guerra.

A canção começa com a chegada de Guilherme à Inglaterra e segue com a descrição da Batalha de Hastings, onde a linhagem saxônica foi derrotada. O refrão “1066, o conquistador veio” ressoa como um lembrete do momento crítico que moldou o futuro da Inglaterra. A música também menciona a batalha anterior de Harold contra os vikings em Stamford, estabelecendo o contexto de um reino já enfraquecido enfrentando um novo inimigo.

Com “1066”, o Saxon não apenas celebra um momento crucial na história de seu país, mas também captura a essência da mudança dinâmica e cultural que se seguiu. A canção é um tributo ao poder e à influência da história em nossa compreensão do presente, lembrando os ouvintes dos eventos dramáticos que podem alterar o curso de nações e povos. É uma peça que traz à vida a história medieval com a energia e a paixão características do Saxon.

Com gritos horripilantes de horror e tortura “Witches of Salem” mergulha o ouvinte em mais um pedaço mórbido da nossa histpria, quando Biff narra um dos versos mais pesados do disco:

Veja as chamas de intolerância saltando cada vez mais alto
Alguém tem que pagar o preço para alimentar o fogo justo

A música “Bruxas de Salém” retrata a infame história das bruxas de Salém, imergindo o ouvinte nos sombrios eventos de histeria e injustiça que marcaram a cidade de Salém, Massachusetts, no final do século XVII. A letra descreve uma comunidade pacífica repentinamente abalada por acusações de bruxaria, onde o medo e a intolerância levam a uma caça às bruxas devastadora. O cenário de julgamentos injustos e condenações baseadas em suspeitas e paranoia é pintado com detalhes vívidos.

O refrão “Bruxas de Salem queimando na fogueira” ressoa como um eco sombrio dos horrores daquela época, destacando as vítimas inocentes desse frenesi coletivo. A canção não apenas recorda o passado, mas também serve como uma poderosa lembrança dos perigos da intolerância e do julgamento precipitado. O Saxon captura a atmosfera de medo e desespero que permeiam Salém, usando a música para transmitir a história trágica das mulheres acusadas injustamente, julgadas e executadas por bruxaria.

Este tema histórico é abordado com a intensidade característica do Saxon, trazendo à tona o pânico e a histeria que dominavam a sociedade de Salém.

E fechando muito bem esse disco “Super Charger” com seus riffs iniciais e a explosão da bateria faz jus ao teor lírico e explosivo da letra.
A canção é uma explosiva homenagem à adrenalina e à emoção das corridas de arrancada. A letra descreve a intensidade e a paixão dos pilotos e suas máquinas poderosas, imersas no mundo do automobilismo de alta velocidade. Cada verso é carregado com imagens de carros acelerando, motores rugindo e a busca incessante pelo limite da velocidade e do desempenho.

O refrão “Super carregador, deixe a onda começar” captura a essência da emoção que permeia essas corridas. A música fala sobre a busca por adrenalina, a sensação de “sentir-se como um pecado” ao ultrapassar os limites da velocidade, e o risco inerente que acompanha essa paixão. Super Charger simboliza não apenas um componente mecânico que aumenta o desempenho do motor, mas também a busca do piloto pela vitória, desafiando o tempo e a própria mortalidade.

As referências ao cheiro de gás nitro, as rodas lutando para agarrar a pista e a aceleração máxima pintam um quadro vívido da experiência de correr. A música também destaca o elemento de perigo e o desafio de manter o controle sob pressão extrema.

Jornalista Filipe Souza - Cinco Miligramas de Misantropia

Filipe Souza

Editor / Jornalista Responsável

MTB32471/RJ

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– Jornalista, designer e Workaholic;
– Produtor de conteúdo e apresentador do canal Cinco Miligramas de Misantropia;
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Faixas:

  1. The Prophecy
  2. Hell, Fire and Damnation
  3. Madame Guillotine
  4. Fire and Steel
  5. There’s Something in Roswell
  6. Kubla Khan and the Merchant of Venice
  7. Pirates of the Airwaves
  8. 1066
  9. Witches of Salem
  10. Super Charger
SAXON - Hell, Fire And Damnation

Formação:

  • Biff Byford – vocal
  • Doug Scarratt – guitarra
  • Brian Tatler – guitarra (Diamond Head)
  • Nibbs Carter – baixo (ex-Fastway)
  • Nigel Glockler – bateria